Em 2014 iremos crescer pelo menos 1%, diz o BdP

Quando é para prever o futuro, desgraça nenhuma se apodera da vontade dos profetas. A esperança é sempre a última a morrer, exceptuando nos casos em que se morre primeiro.

Esta coisa de prever o PIB a 2 anos de distância por instituições oficiais começa a parecer mais um assunto de teologia do que economia, a saber:

O BdP lançou hoje cá pra fora as suas projeções para 2013 e 2014.
2013 nada de novo, com uma recessão esperada de 1,9% com 50% de probabilidade de ser ainda pior!
Em Outubro andavam pelos 1,6%.

Mas 2014 é que sim senhor.
De uma suposta recessão em 2013 de 1,9% ou mais, que até há poucos meses se julgava ser de 1% ou até menos, saltamos para um crescimento acima de 1,4% em 2014. É que se ainda fosse de -0,5%, ou até mesmo de 0%, enfim, ainda aceitava, mas 1,4% ?
Significa uma variação positiva de 3,3 pontos percentuais num ano!
Parece-me milagre, e como não gosto de misturar o divino com o terreno, não consigo levar a sério estas projeções.

Se é para não "espantarem" a caça e darem ideias cor-de-rosa aos media, preferia que ficassem quietos e não avançassem com estas ideias estapafúrdias.
Faziam só projeções a 6 meses, no máximo um ano vá, e em períodos de muita incerteza, como são os que vivemos, referiam que não havia padrão estatístico reconhecido, e portanto remetiam-se ao silêncio. É assim que o Instituto de Meteorologia refere nas suas nas previsões a 1,2 e 6 meses acerca da pluviosidade e da temperatura. Não sabe, fica calado.

Mas para dar credibilidade à coisa, incluíram no gráfico mais projeções, supostamente originárias de reputados videntes que conseguem prever o PIB "muito à frente". Eles são o Hodrick, o Christiano, o King, etc. Quantos mais melhor.

De seguida temos o PIB descascado nas 3 parcelas que constituem A Procura Interna

O positivismo ideológico continua.
Por ação do divino, a partir de 2014 a inversão da tendência será uma realidade em todas as parcelas.

MAS PORQUÊ? EM QUE É QUE SE BASEARAM?
Não encontrei argumentos de jeito no relatório.

Pergunto eu:
- Escapou-lhes que os dados disponíveis mostram que a Europa arrefeceu economicamente e está à beira da recessão, e o que vendemos para fora dela não é suficiente para compensar, sobretudo se o € continuar acima dos 1,1 dólares?
- Será que estão a contar com o corte dos 4 mil milhões que o Estado terá que aplicar nos salários e pensões em 2014, ou esquecem-se que é o FMI quem manda o dinheirinho?
- Previram que um corte de 4 mil milhões significa um rombo no PIB de 6, 7 ou 8 mil milhões?
- E será que perceberam que com esse corte de 4 mil milhões haverá menor receita fiscal, obrigando posteriormente a outro corte de 4 mil milhões? Não perceberam ainda que pelo menos 10 mil milhões em despesas ordinárias terão que saltar fora do barco, roubando 15 ou 20 mil milhões ao PIB?
- E o que dizer da redução da população, sobretudo jovem, por efeitos da emigração?

Ahh. para quê chatear-me? 2014 ainda está longe. Que se lixe

Tiago Mestre