domingo, 17 de fevereiro de 2013

A Armadilha do Crédito


O dinamizador do blog Incitador sugeriu-me em Dezembro 2012 se porventura eu queria postar no Viriatos um exemplo de um contrato de crédito à habitação. Não prometi que o faria, mas se a oportunidade surgisse, não hesitaria.

E fruto dos últimos posts escritos por mim onde enfatizo o problema de excesso de dívida que temos entre nós, penso que este exemplo exemplifica bem o modo como a dívida entrou pela nossa casa adentro:

Do blog Incitador
Dei-me ao trabalho de criar uma ilustração onde se pode ver a situação concreta (neste caso, a minha) de um crédito à habitação concedido por um banco. Até há poucos anos, eu não fazia ideia de como funcionava um empréstimo bancário pelo que, como costumo dizer, caí na armadilha.

O meu objectivo com isto é alertar potenciais candidatos aos créditos bancários. (Se eu tivesse visto este gráfico na altura, certamente, não me teria endividado.) 

Na base verde, encontra-se o valor que o banco me emprestou. Desse valor, em 7 anos, paguei 16,5%. Na base roxa, encontram-se os valores entregues ao Montepio Geral. (O roxo corresponde à cor com que fiquei quando me apercebi disto.)
Na minha óptica, há os seguintes aspectos inesperados e chocantes:

a) O valor pago em juros ultrapassa largamente o valor amortizado durante o mesmo período. E a taxa de juro nominal andou sempre entre 1,77% e 5,69%, ou seja, em média, 3,39%;

b) O valor do seguro sofre um aumento anual que ronda os 6%. Que justificação haverá para este aumento? (Só me ocorre um - a ganância.) A pilha de notas é a menor mas, ainda assim, corresponde a um valor inaceitavelmente alto.

Comentário

O crédito tem duas faces:
     a face da frente representa o poder de compra, o apelo irresistível de possuir
     a face de trás representa a dívida, os encargos, as situações inesperadas

Tiago Mestre

2 comentários:

Sérgio disse...

Excelente gráfico!
Mas não é tudo negro, ou melhor, como diz o post acima, mesmo quando a coisa é preta, pode ser boa... no inicio os juros tem o maior peso, se bem me lembro das aulas de economia, a primeira prestação num empréstimo será qualquer coisa como 0% de amortização e 100% de juros e a última o inverso, 100% de amortização e 0% de juros, ou seja, a meio do prazo já se pagou quase a totalidade dos juros de todo o empréstimo.
A "armadilha" foi muito bem montada, o que hoje se discute aqui e nos outros blogues listados à direita nem sequer se imaginava à 7 anos atrás (tirando uma ou outra ave rara) desde a publicidade constante ao clima geral em que se vivia, quem não fosse ao crédito era visto como um otário, era tido como certo que com a inflação (e consequente aumento de ordenados) a prestação ia ficando diluída a cada ano e o valor do imóvel ia sempre aumentando, era uma situação de "win/win" não podia dar errado.
Com as mãos largas dos bancos qualquer caramelo conseguia um empréstimo, logo o preço dos imóveis disparou obrigando praticamente todos os potenciais compradores, mesmo os mais teimosos, a ter de recorrer ao crédito pois de outra forma era impossível chegar aqueles valores, ainda há pouco passou por aqui um video a dizer que os preços do imobiliário continuam demasiado altos. Fazer uma poupança primeiro para só depois pedir o resto, à 7 anos não fazia qualquer sentido, pelo menos naquela perspectiva. Só o esperado aumento do preço do imóvel ia comer quase toda a poupança...
Dificilmente alguém poderia escapar da armadilha mesmo que a visse.

Tiago Mestre disse...

São exatamente estes Esquemas pseudo Win/win que mais me atrofiam o cérebro e mais me "revoltam" porque destroem Nações sem serem sequer ilegais ou até ilegítimos.

Eles aparentam ser Win/Win porque jogam com as "falhas" do ser humano em ser otimista quanto ao futuro e desejoso de possuir no presente:

No futuro as coisas serão sempre melhores; No futuro poderei fazer isto, isto e isto; No futuro terei tempo para resolver todos os meus problemas.

E no presente o que eu quero é desfrutar. Se posso ter hoje em vez de ter amanhã pagando o mesmo? Ou quase? Porque não?

Alguém descobriu isto e aplicou ao marketing dos produtos de crédito

O Crédito cheirará sempre a canela ao ser humano porque assenta neste vício otimista quanto à nossa visão do futuro, e só com a lógica, matemática e alguma ascese individual é que poderemos combatê-lo.

Para pessoas como nós, já bem conscientes deste dilema, termos o poder da palavra para difundir num blog como este ou em qualquer outro é Espetacular.

Resta saber se cativamos e se fazemos a diferença - aí já é mais difícil