sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Draghi - Man of the Year

Caros leitores e leitoras, ontem foi dia de pagamento, e os bancos que quiseram liquidar parte ou todo do dinheiro que o BCE lhes emprestou em Dez2011 poderam fazê-lo.

Apesar do empréstimo ser a 3 anos, com taxa de juro a 1%, com quis antecipar o pagamento o BCe concedeu essa oportunidade.
E de um total 450 mil milhões de euros emprestados, pelos vistos 137 mil milhões regressaram à base.

Sendo aproximadamente 1/3 do total poderemos ver isto como a história do copo meio cheio e do copo meio vazio. Eu acho que Draghi está de parabéns.
Apesar das operações LTRO I e II não terem sido um sucesso, na medida em que o risco dos bancos e o clima de nervosismo continuou pela Primavera de 2012, sempre ajudou estes a terem alguma tesouraria, o que em tempos de escassez de recursos é sempre importante.

Só quando Draghi prometeu em Julho que tudo faria para salvar o € é que as coisas começaram a mudar. A princípio ninguém o levou a sério, mas à medida que os dias iam passando e o governo alemão não desmentia o que ele ia dizendo, o pessoal começou a perceber que eventualmente as coisas poderiam ser diferentes depois do Verão. Merkel não desmentiu, Schauble não desmentiu, e em Setembro Draghi anunciava o programa OMT (Outright Monetary Transactions), um esquema financeiro em que o BCE adquiriria todas as obrigações soberanas que os bancos possuíssem caso a yield ultrapassasse certo valor.
Merkel não desmentiu e Schauble também não. Era mesmo para valer.

E assim se iniciou a recuperação mais rápida nos mercados de obrigações da Europa na história recente. Até a Grécia, que toda a gente sabe que não tem energia para liquidar as suas dívidas, foi submetida a processos de default e mesmo assim continua a atrair investidores.

O chamado flight to safety que muita gente fez entre Jan2010 e Jul 2012, vendendo obrigações periféricas e comprando obrigações mais seguras, fez com que as primeiras ficassem a sangrar e as segundas engordassem demasiado.
Resultado:  obrigações seguras (EUA, Alemanha, etc) com preço muito elevado e yield muito baixinha.
Isto chegou ao ponto de na esmagadora maioria destas obrigações, a yield ser inferior à taxa de inflação.
Resultado: Perdas líquidas nos investimentos.

Bastou a Draghi acenar com promessas em Julho 2012 para que muito investidor decidisse arriscar na aquisição de obrigações periféricas. Andavam todos à procura de yield, tal era o mau desempenho dos seus portfolios.

E assim conseguiram os Bancos Centrais levar a manada de investidores para onde queriam que eles fossem, que não é mais do que mantê-los no jogo da troca de dinheiro à custa dos défices nacionais e das despesas, como em SS, que os governos continuam a insistir que devem existir, apesar de serem financiadas com dívida privada.

A yield que hoje rendem as obrigações "seguras", como EUA, Alemanha e França, por exemplo, é demasiada baixa para a sua qualidade, e o mesmo já se passa com os países periféricos. Daqui a pouco só ativos muito arriscados é que rendem uma yield superior à inflação, porque tudo o resto, mesmo algumas obrigações já bastante arriscadas estão já abaixo da inflação.

A manipulação no curto prazo está a dar resultado. Os investidores estão encurralados porque a globalização já atingiu o planeta quase todo e já não há muito para onde fugir. Talvez Myanmar seja uma das poucas oportunidades, como diz Jim Rogers, estando agora a abrir as suas fronteiras.

Mas depois de cobrirmos o planeta Terra com políticas monetárias expansionistas já não há mais sítio para onde ir. Algum dia todo este dinheiro terá que dar à costa.

Tiago Mestre

5 comentários:

Anónimo disse...

sempre pessimista...mas isto bnao e uma boa noticia???

Anónimo disse...

"Resultado: obrigações seguras (EUA, Alemanha, etc)... "

EUA? Obrigações seguras? Até quando?
Serão mesmo?

Abraço,
Bruno Morais

Tiago Mestre disse...

Bruno, deveria ter escrito "seguras" com aspas, assim sempre me referia ao termo seguras com uma dose de ironia, porque também concordo contigo. Seguras o tanas

Anónimo:
Pessimista???? Eu?
Então escrevo um post a relevar as coisas "boas" que Draghi está a conseguir?
Já escrevi tanta vez que reconheço que me enganei quanto à capacidade dos políticos em comprar tempo.
O homem está de parabéns.
Man of the year

vazelios disse...

É uma boa noticia na medida em que (Draghi) conseguiu - Melhor do que muitos previam - comprar mais tempo do que o que se pensava ser possível.

Mas a ficha vai cair. A inflação vai aumentar, um dia, ou gradualmente, como está a acontecer.

O meu rácio de pessimismo/optimismo em relação à Europa/Japão/EUA é que se está a estreitar e a meu ver a Europa segue um caminho melhor (menos mau) que os seus pares. Contrariamente ao ano passado onde estava bastante mais pessimista para a Europa.

No entanto tem feito pouco (a nível intranacional) para corrigir os graves problemas do mundo ocidental, que todos estes países partilham, que é a corrupção, os estados pesados, os impostos altos para sustentar esse estado, o envelhecimento da população, a desindustrialização, a maquinização (ou computorização) de todo o tipo de empregos, enfim...um rol de problemas que ainda não foram tocados.

Mas pelo menos aqui, na Europa, já se reconheceu alguns problemas desde a crise financeira.

Nos outros dois polos o mundo é (ainda) cor de rosa.

Vivendi disse...

Eh ehe hehe

Não fosse o Super Mário uma figura do mundo da fantasia...