quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Portugueses rejeitam duodécimos

Numa tentativa de engenharia social, o governo de Passos Coelho tentou cativar os portugueses acenando com mais algum dinheiro em Janeiro e Fevereiro, mas à custa de um subsídio.
Desta forma as pessoas não sentiriam já nos primeiros meses a quebra do rendimento devido ao enorme aumento de impostos.

É verdade que a base de tudo isto é o tal enorme aumento de impostos, que como já aqui falei no blog, reflete um Estado que já roça o autoritário em matéria fiscal.
Percebo que à falta de alternativas (baixar despesa é um berbicacho), se avançe para aumentos de impostos, mas a solução é ineficaz e confiscatória para aqueles que não podem fugir, ou seja, só aumenta as assimetrias entre a população e introduzi cada vez mais a lógica social do salve-se quem puder.

1. A sugestão do governo com a história dos duodécimos cheira logo mal porque dá a liberdade de escolha às populações sobre como (não) querem receber o seu dinheiro. Tal sugestão só complica a gestão nas empresas e nos respetivos departamentos financeiros. Cria mais um conjunto de exceções e de alçapões que promoverão aos mais expertos procurarem falhas e fugas no sistema.
Se o governo considera que os subsídios ou os duodécimos são ambos constitucionais, e se no fim vai dar tudo ao mesmo, deveria decidir sim ou sopas. Esta liberdade de escolha que dão ao pessoal é falaciosa porque é basicamente uma distinção sem diferença nenhuma.

2. Desconheço quem foi o iluminado que se lembrou desta ideia, mas se uma coisa destas chegasse às minhas mãos rejeitaria-a na hora.
É que está implícito nesta ideia de que os populações poderão "beneficiar" no curto prazo de uma não redução do seu poder de compra, já que o salário com duodécimos poucas alterações sofrerá, sobretudo para os salários mais baixos.
O estímulo que se está a dar é o do "GANHA JÁ" e depois, quando chegarem as despesas que se costumavam pagar com os subsídios, LOGO SE VÊ.

3. Talvez para muitos de nós, receber em duodécimos ou manter o que estava é exatamente a mesma coisa, já que não precisamos dos subsídios como de pão para a boca, mas para muitos outros, faz diferença receber esse "bónus" nos meses X e Y porque têm que comprar os livros para os miúdos, umas prendas para a família, pagar o seguro do carro, etc, etc.
Acreditam que quem quiser receber os duodécimos irá reduzir ou reescalonar estes pagamentos que tinha nos meses em que recebia os subsídios?
Eu Não Acredito.
A malta prefere receber agora o guito e depois, quando chegarem essas despesas, logo arranja maneira de pagar ou não pagar.

Mas para meu agrado, vi a notícia de que os portugueses não "compraram" esta ideia aldrabada de receber os duodécimos em vez dos subsídios. Eu próprio sugeri na minha empresa para que não se adotasse os duodécismo. Só não consegui convencer o meu sócio e o diretor de operações do Norte.
O resto do pessoal já tinha decidido em não receber mesmo antes de eu sugerir essa opção.

Tal evidência deveria servir de lição aos burocratas que andam a perder tempo e a magicar pseudo-soluções de engenharia social, ajudando-os assim a compreender que a natureza humana é muito mais complexa do que possam sequer imaginar, e antes de promoverem políticas que tentam influenciar uma Nação inteira, pensem em promover políticas que os mudem a eles próprios, e que aprendam com os erros cometidos ao quererem continuar a insistir em fórmulas de engenharia social há muito testadas e largamente derrotadas.

Tiago Mestre

4 comentários:

Anónimo disse...

Tiago,

Então toma lá uma notícia "interessante" p/a confrontar c/ o teu artigo:

http://www.jornaldenegocios.pt/economia/emprego/detalhe/lei_dos_duodecimos_foi_um_sucesso_completo.html

:-)

E agora? É ou não um sucesso?

Abraço,
Bruno Morais

David Seraos disse...

Oh pah deve ser a 1ª vez que leio um artigo teu e discordo completamente Tiago.

Se os portugueses aceitaram ou rejeitaram na sua maioria receber por duodécimos não faço a menor ideia. Pois nem tive em atenção a tal.

Mas em bastantes empresas os subsidios já eram pagos em duodécimos há um bom tempo. Ok as empresas que falo são micro e pequenas empresas.

Quanto à lei, pelo que ouvi falar é de fazerem pagar todos por duodecimos, mas depois houve muito barulho e tiveram de deixar os trabalhadores decidirem por qual optavam.

E Tiago qual é a diferença em receber por duodecimos ou por inteiro? Recebem na mesma, sim falas do estimulo que dão que é o ganha já, mas eu penso no estimulo contrário, que é poupa para teres.

Mas acho bem terem dado escolha ao trabalhador, para mim foi o mais importante desta lei.

Tiago Mestre disse...

David, ainda bem que discordas. Dá-nos oportunidade de varrer mais argumentos.

Objetivamente falando, pagar em duodécimos ou em subsídios é a mesmíssima coisa. Estamos de acordo.

A sugestão de pagar em duodécimos aparece DEPOIS do enorme aumento de impostos anunciado pelo Gaspar, que por sua vez é consequência do chumbo do TC, da TSU e sei lá que mais.

Aumento de impostos significa menor poder de compra para nós.
Pagar em duodécimos em vez dos subsídios é cosmética contabilística

Mistura-se contabilidade "positivista" com a economia "negativista" a ver se o povo não topa os efeitos nefastos da segunda.
É isto que me cheira sempre mal quando misturam coisas que são diferentes, na tentativa de amaciar o pêlo do pessoal. Não achas?

Como disseste e bem, ouve barulho, e dos duodécimos passámos para a liberdade de escolha.
Bom, liberdade de escolha já havia, como referiste em algumas pequenas e médias empresas que preferem os duodécimos, e pelos vistos naquelas onde não havia, o pessoal não desejava, ou seja, ficaram na mesma.

Resumindo e baralhando, no privado, o povo já se tinha mais ou menos adaptado às soluções que mais gostava, e a liberdade de escolha agora concedida revela-se uma espécie de profecia retro-anunciada - já toda a gente tinha tomado essa decisão individual/coletiva anteriormente
É como vir agora dizer que deveremos usar o relógio no braço esquerdo... Ooops, afinal regra geral a malta usa-o nesse braço!


Na minha opinião, a coisa bem feita seria talvez esta:

Havendo já empresas que pagam em duodécimos por acordos bilaterais (empregador e empregados), legisla-se pela liberdade total nesta matéria, ou seja, o Estado não se imiscui no assunto, tendo ele mesmo que chegar a acordo com o seu pessoal nos vários departamentos públicos e nas empresas públicas.


Obrigado por discordares porque me obrigou a pensar mais um bocado e olhar melhor para o assunto.

David Seraos disse...

Tiago obrigado por essa ultima frase, uma boa frase para cultivar a troca de ideias e as suas contrárias.

Sim tocas num ponto que é a mistura pra enganar o povo, mas acho que toda a gente já percebeu o aumento de imposto que aconteceu. E quem ainda não percebeu, acho que tanto por duodécimos ou por inteiro se irá aperceber bem depressa.

E a ideia que eu tenho, é que muitas das pessoas que não querem receber por duodécimos é simplesmente pelo habito. Não digo que é menos válido por isso, pois cada pessoa tem direito às suas escolhas, e sem ter de se auto-justificar.

O estado nao se imiscuir no assunto? Isso é mesmo possivel, tudo o que mexa o estado tem de fazer algo sobre isso.

Eu até era mais de dar liberdade total às empresas e aos trabalhadores para negociarem livremente entre eles o contrato de trabalho.