quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Recessão de 3,2% em 2012

Caros leitores e leitoras, tendo o governo, a troika e o BdP apontado todos eles para uma recessão de 3% em 2012 já o ano ia a mais de meio, sempre achei que tal valor seria relativamente otimista, dadas as circunstâncias.

A FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), ou Investimento, continua numa trajetória péssima, e as exportações, verdadeira referência positiva no PIB desde 2009, perdeu fulgor no último trimestre como evidenciei nos posts "Serão os estivadores os culpados pelo mau desempenho das exportações?"

Às contas do INE não escapou esta realidade: recessão de 3,8% no 4º trimestre face a período homólogo, e recessão acumulada de 3,2% em 2012. Desde que notei que as exportações estavam a perder vigor, ali por volta de finais de Outubro, achei que a recessão andaria acima dos 3%. Acabei por colocar o valor de 3,3% (um bocado ao calhas) nas Contas Nacionais que se encontram na barra lateral do nosso Blog.

Quem se baseou na informação do Viriatos acabou por ficar mais perto da realidade do que as previsões da troika, do BdP e do governo.

O mesmo fiz para 2013 em que apontei também em Outubro para uma recessão de 2% quando as mesmas instituições que acima referi apontavam para não mais de 1% e até menos. Entretanto os meses passaram e de forma genérica, já toda a gente se convenceu que a recessão em 2013 andará bem próximo dos 2%, se é que não será pior. Este valor já não é tanto ao calhas como o de 2012, já que por muito bem que as coisas corram, não é possível "subir" de 3,2% para 1% ou 1,5%. São alterações muito significativas num só ano, e com a austeridade em curso, parece-me irrealista apontar para valores muito otimistas.

Mais ridícula ainda é a previsão do BdP para 2014 de um crescimento de 1,4%. Aí sim, estamos mesmo nas nuvens, não tendo Passos Coelho hesitado em se agarrar a esta percentagem com todas as forças que tinha na esperança de evitar o descalabro das eleições autárquicas que aí se avizinham.

É que com o corte de pelo menos 4 mil milhões que se perspetiva para a despesa pública, podemos todos contar com uma quebra no PIB de 6,7, ou 8 mil milhões, o que significa recessão entre 3 e 5% para esse mesmo ano, caso as exportações e a FBCF se mantenham inalteráveis. O assunto é demasiado sério e parece-me que nenhuma instituição oficial quer pegar o "touro pelos cornos" e dizer à população o que se está a passar.

Tiago Mestre

5 comentários:

Anónimo disse...

Será que o P.R. com doutoramento em economia e não vê este descalabro?Também não viu a bancarrota sócrates?Mas votei em quem ?

vazelios disse...

Acho que se dá demasiada importãncia, nos tempos que correm no mundo ocidental, ao crescimento.

Dos problemas todos que temos, será o crescimento assim tão importante? Claro que é importante, mas antes dele, existem outros problemas por resolver, para se chegar ao tão almejado crescimento.

Eu quero lá saber se o PIB cai 3.2, 3.1, 2.9%, desde que não seja 10% eu quero é que haja mudanças na sociedade e principalmente na mentalidade das pessoas para poderem exigir mais e melhor dos nossos actores de circo!

Em alguns quadrantes da sociedade noto mudanças, noutros, como o caso das multas às facturas, caminhamos no sentido inverso ao que deviamos, na minha opinião claro.

O importante é mudarmos urgentemente a estructura e mentalidade da sociedade, seja que mudança for. Saber para onde queremos ir. Mas nem esse debate existe.

O que interessa a diferença de 0,2% na queda do PIB Versus o estimado há não sei quantos meses? E falhar por duas décimas já considero muito bom! Com isto não quero elogiar o governo, mas o ximfrim que se faz pelo governo falhar a previsão é ridiculo.

TSe todas as sondagens têm margens de erro e intervalos de confiança, e falham quase todas, imaginem as previsões num mundo global como o de hoje, em que tudo muda num segundo.

Até porque, e isto não sei se é verdade, o banco de Portugal projectou uma queda de entre 0,8% e 3% do PIB para 2013, mas a imprensa avançou com a previsão do BdP de -1,9%! Porquê este numero e não outro daquele intervalo? É a média? (Ouvi um economista dizer isto ontem na TV, não sei se é verdade).

Tiago e restantes, sabem perfeitamente da dificuldade em saber quanto vai a vossa empresa facturar no final do ano, quanto mais saber a evolução do PIB.

Depende de tantos factores...

Claro que é bom ter-se uma estimativa e não andar "muito" às cegas, mas o importante é criar condições para crescermos no futuro e não andar a discutir duas décimas.

O que se pasou ontem na imprensa foi, mais uma vez, uma terrivel perda de tempo.

Continuem a falar sobre os erros das pessoas, em vez de falarmos nos nossos problemas, como uma sociedade global.

Interessante seria, todos os actores da sociedade Portuguesa, começando pelo governo, passando pela oposição e conduzidos pela imprensa, reconhecerem que temos problemas, pensar como os podemos resolver, dizer a verdade de que temos de encolher a economia para os resolver, porque a nossa economia cresceu (debilmente) alavancado em divida e portanto insustentavel.

Não é mandar numeros para o ar. É dizer, queremos a sociedade X e para isso precisamos de cair durante algum tempo, ter um défice anual de Y para crescermos sustentávelmente.

Ricardo Anjos disse...

conforme diz o Vazelios, o crescimento é sobrevelorizado (principalmente porque se mede o crescimento do PIB).
como esse crescimento do PIB é inalcançavel a curto/médio prazo, a chicana politica em torno de projecções, previsões ou adivinhamentos, é discussão sem sentido algum.
não está provado, nem nunca se provou a correlação entre o crescimento do PIB, e o desenvolvimento económico sustentável (estou disponível para defender esta tese, por quem fique chocado com esta afirmação).

por ora, desejo a todos um bom e próspero diminuimento!

Anónimo disse...

AQUI ESTA A EXPLICAÇÃO PARA O TIAGO POR O GOVERNO TER ERRADO 0,2( SE E QUE ISTO DEVE SER TEMA DE CONVERSA, PARECE CONVERSA DE DEPUTADO):
Os dados divulgados, ontem, quinta-feira, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), dão conta de uma deterioração do produto interno bruto (PIB) que superou a previsão do Governo e que ficou em linha com a previsão do BPI.
Os analistas acreditam que os dados foram "altamente influenciados" pela greve dos portos e referem um dado positivo na procura interna. Segundo os números que resultam da primeira leitura dos dados do terceiro trimestro, o PIB português recuou 3,8%, em termos homólogos, nos últimos três meses do ano, e 1,8% face ao terceiro trimestre de 2012.

Pedro Miguel disse...

Nunca devemos esquecer que as próprias previsões são feitas com base em previsões.

E serão mais aproximadas quanto mais ceteris paribus (é uma expressão do latim que pode ser traduzida por "todo o mais é constante" ou "mantidas inalteradas todas as outras coisas". fonte: wikipédia)

Eu fui um dos que disse que o Tiago estava a ser pessimista ao apontar para 3,3 e que acreditava mesmo nos 3%, mas no último trimestre houve uma inversão na Europa que não indo de encontro às previsões, deitou por terra as próprias previsões feitas com base nas previsões.