quinta-feira, 21 de março de 2013

Consequências inesperadas/indesejadas

Escrevi aqui no Sábado passado, logo após a decisão histórica do Eurogrupo, que ficaria à espera para ver a capacidade dos políticos europeus em comprar tempo, face à monumentalidade da decisão que tomaram e das consequências imprevistas/indesejadas que poderiam daí advir.

Eu, que fui um pessimista em relação à capacidade destes em controlar o problema das dívidas soberanas em 2011/2012, reconheci que me enganei. A compra de tempo que estes conseguiram fazer é digna de se lhe tirar o chapéu. Várias vezes o afirmei aqui.

Mas desde que a decisão sobre Chipre foi tomada no sábado, parece que a arte em comprar tempo começa a escassear nos corredores de Bruxelas:

- O parlamento cipriota chumbou a proposta (nenhum voto a favor ! Aauchh)
- Os bancos eram para abrir ontem, e pelos vistos irão continuar fechados sabe-se lá até quando. (Eis o controlo de capitais em todo o seu esplendor)
- O pessoal continua a retirar dinheiro das Caixas Multibanco, mas até aí parece que a fartura já foi maior.
- Os Russos, como têm muito a perder, entraram na jogada para ver o que pode ser feito, mas duvido que queiram alguma coisa dos bancos, exceptuando os seus depósitos. Não acredito que queiram comprar bancos já falidos, e que muito mais falidos ficarão face a toda esta drenagem de depósitos para debaixo do colchão.
- Comerciantes locais começam a rejeitar pagamentos em cartão com receio que depois não consigam converter esse "dinheiro" em dinheiro.
- A Igreja Ortodoxa meteu-se ao barulho, oferecendo os seus bens como garantia ao governo cipriota, caso este necessite de emitir obrigações para resgatar os bancos. Fez-me lembrar logo o papa Francisco com os seus votos de pobreza. Só falta agora aplicá-los à sua igreja e doar todo o seu espólio aos "pobres".

Estas são as consequências imprevistas e também indesejadas que nem Merkel, nem Schäuble, nem Barroso, nem Von Rompuy, nem Cristina Lagarde (ui, que peça!) nem o chavalinho holandês das Finanças com um nome complicado, nem Gaspar se aperceberam que poderiam ocorrer, ali por volta das 5 da manhã de Sábado.
Agora, parece que o tempo corre contra eles.

Em Chipre procuram-se alternativas de financiamento à própria UE, e se tal acontecer sem se mexerem nos depósitos, podemos contar com mais um prego no caixão da cleptocracia autocrática de Bruxelas.

Tiago Mestre

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