sexta-feira, 10 de maio de 2013

A verdade nua e crua

Fernando Ulrich, no seu estilo já bem conhecido, afirmou peremptoriamente que a salvação dos bancos portugueses pode estar na usurpação (eufemismo: taxa) de parte dos depósitos acima dos 100 mil euros.

Independentemente de concordar ou não com medidas desta natureza, o que importa refletir é se quem tem o poder para o fazer está disposto ou não a ir para a frente.

Ulrich é talvez o primeiro com poder em Portugal a afirmá-lo. Fica-lhe bem ser honesto consigo mesmo.
Mas também fica bem a cada um de nós prepararmo-nos  para o que aí vem.

Podemos sempre afirmar que é só acima dos 100 mil, e portanto estamos muito longe desse patamar. A minha opinião é que quando for preciso fazê-lo, aqueles que têm contas acima dos 100 mil € farão o que têm que fazer: deslocalizar o dinheiro, dividi-lo por várias contas, levantar em numerário, etc.

É óbvio que havendo menos dinheiro no patamar > 100 mil, será preciso ir a patamares inferiores, até te atingirem a ti e a mim.

Para já, para já, acredito que decisões destas em Portugal ainda estão longe de serem tomadas. Há muito a perder caso se avance por aí, mas no dia que o Poder considere que tem mais a perder em não fazê-lo, basta dormirmos uma boa noite de sono para que na manhã seguinte: Puff

Tiago Mestre

2 comentários:

Pedro Miguel disse...

O Chipre é um caso muito particular e seria muito difícil replicar isso em Portugal.

Essa forma de intervir acima nos resgates a bancos deve ser considerado o bluff perfeito e esperemos que não seja novamente necessário.

A Europa vive uma crise de dívida soberana, mas se pensarmos bem, tivemos em todo Mundo uma crise de crédito que de certa forma não teve efeitos tão nefastos como se previa.
O que mudou para conseguir estancar a crise? Deixamos falir alguns dos bancos com problemas.

Deixar falir alguns dos bancos é um aviso às administrações bancárias de que é preciso fazer uma gestão mais rigorosa. Contudo, "obrigar" que os depositantes sejam mais controladores dos próprios bancos com que trabalham e onde deixam o dinheiro é um bom complemento à prevenção contra más gestões.

Mas, vamos lá fazer um pequeno exercício lógico:

Se um banco falir, há uma garantia de que todos os depósitos até 100.000€ estão salvaguardados. Bem, isso significa que tudo o que está acima de 100.000€ vai arder...
E se formos inverter a situação? Em vez de deixar cair o banco (com todo os efeitos de contágio que isso leva), vamos "salvar" parte dos depósitos acima de 100.000€ e com mais uma injecção de dinheiro, recuperar o banco.
Não sei se é a solução perfeita, diria que cada caso é um caso, mas eu se fosse depositante no banco X preferia essa solução a ver o banco falir e eu como contribuinte preferia ver essa solução a ver os meus impostos serem consumidos pelos tóxicos de um banco.
Certamente, que saber que posso perder parte do depósito me obriga a escolher melhor com que bancos trabalhar, penso até que me põe mais alerta para os bancos do que pensar que podem ou não falir.

Como em tudo, há várias formas de pensar as coisas, os indivíduos são diferentes e agem de forma diferente perante a mesma situação. Mas tendo em conta o raciocínio acima, será que esta ameaça de taxa nos depósitos acima de 100.000€ não pode ser também considerada uma forma de garantia?

Anónimo disse...

Garantia é ter ouro físico. Não é confiscarem-nos dinheiro para os CEO bancários andarem de iate e jogarem golf.