segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Chegamos lá, vencemos e depois fodemos tudo ...

... é mais ou menos assim que Charlie Wilson, no filme Jogos de Poder, interpretado por Tom Hanks, explica aos colegas do Senado/Congresso o tipo de operações a que os EUA acostumaram o mundo. Isto passou-se na década de 80, a propósito do apoio secreto que a CIA deu aos mujahedins do Afeganistão para combaterem os russos, tendo retirado o apoio logo de seguida à derrota dos soviéticos.

A malta não aprendeu, e à boa maneira americana, lá vão todos cheios de pica prá guerra, mas depois percebem que as intenções são bem diferentes da realidade, o inimigo afinal é matreiro, cansam-se, fartam-se e vêm embora, entregando os territórios à bicharada.

Foi assim no Vietname, Iraque, Afeganistão, etc, etc.

A peripécia mais recente chama-se SÍRIA.
Recorrendo a argumentos mal engendrados de que Bashar Al-Assad teria usado armas químicas contra o seu próprio povo, justificaram a necessidade do regime sírio mudar. E como? Apoiando rebeldes para o fazerem.
Os apoios iam desde a entrega de armas via Consulado de Benghazi na Líbia até ao treino profissional dos rebeldes em campos militares na Jordânia. Tudo com o patrocínio da CIA.

Julgavam que Assad seria tipo Khadafi ou Saddam Hussein. Esqueceram-se do apoio da Rússia, da habilidade política de Hassad e dos olhos atentos da Comunidade Internacional.
Não dava para bombardear sem mais nem menos. Enviar tropas estava fora de questão. Só restava a trafulhice: Armar os rebeldes e acreditar que estes eram santos e que ficariam subservientes aos EUA quando tomassem Damasco. Oops..

Com a cartada de Assad em entregar as armas químicas a quem as quisesse, os EUA ficaram sem argumentos, e o apoio aos rebeldes começou a escassear.
Assad continuou a resistir aos avanços dos rebeldes e estes começaram a claudicar.

E é neste momento de fraqueza dos rebeldes que entra em cena o parasita dos países muçulmanos previamente invadidos pelos EUA: a Al-Qaeda:
Disfarçados ou não, foram-se juntando à frente de combate dos rebeldes, começaram a controlar cidades e regiões aqui e acolá. Quando perceberam que a liderança dos rebeldes não tinha músculo, fizeram aquilo que melhor sabem fazer: "apropriaram-se da região".
Os EUA, sabendo desta medonho fracasso dos rebeldes, decidiu suspender o apoio. Decretou a derrota aos tipos e deu a vitória de bandeja à Al-Qaeda.

O novo nome da Al-Qaeda na região chama-se agora Estado Islâmico no Iraque e Levante (ISIS).
Controlam partes do Norte da Síria (Idlib e Alepo) e do Norte do Iraque, sim, o mesmo Iraque fucked up que os americanos deixaram há pouco tempo. A humilhação vai ao ponto da Al-Qaeda ter estabelecido a cidade iraquiana de Fallujah como a sua nova capital !!!
As forças iraquianas já disseram que vão atacar em força a cidade, mas o caricato é que serão armas dos EUA do lado do ISIS contra as armas dos EUA do lado do Exército do Iraque.

É assim que se fode uma região inteira por julgarem saber o que é melhor para os outros, sem perceberem nada da sua cultura, da sua religião ou dos seus interesses.

Podiam aprender qq coisa se lessem a história dos descobrimentos portugueses do século XV e XVI.

Tiago Mestre

3 comentários:

Vivendi disse...

É o que dá liquidez demais de dólares.

Os americanos nem sabem o que fazer a tanto $ em circulação.

Fada do bosque disse...

Excelente artigo.

Entretanto a indústria do armamento esfrega as mãos de contente... e nem sequer estão lá as empresas russas para competir. israel pode-se sentir orgulhoso. Quais americanos, qual carapuça. Os EUA foram ocupados como um dia o foi a Alemanha.

Diogo disse...

Santa ingenuidade! O complexo militar industrial norte-americano precisa de ser continuamente alimentado. Seja na Coreia, no Laos, no Vietname, na Indonésia, no Afeganistão, no Iraque, nas primaveras árabes e agora também na Síria.

O objetivo não é vencer guerra nenhuma, é criá-las e fazê-las durar para escoar a produção bélica americana: aviões, helicópteros, tanques, mísseis, armas ligeiras, granadas, balas, etc.

Que estas guerras intermináveis causem milhões de mortos ao «inimigo» (a esmagadora maioria, civis) e dezenas de milhares de mortos ao exército americano, é uma inevitabilidade que não tira o sono a ninguém.

Quanto à Al-Qaeda, para os que ainda não compreenderam, é apenas mais um braço armado da América.