quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Capitalismo em apuros?

 José Manuel Moreira,


Corre por aí que "tudo o que temíamos acerca do comunismo - que perderíamos as nossas casas e as nossas poupanças e nos obrigariam a trabalhar eternamente por escassos salários e sem ter voz no sistema - se converteu em realidade com o capitalismo."

Esta mensagem-purgatório, atribuída a um activista - uma nova profissão -, expressa um equívoco sobre o sistema em que vivemos. Resultante de um intervencionismo que levou ao crescimento desmedido do Estado - fruto da ilusão em recursos públicos ilimitados - e terminou em défice fiscal e em défice de consenso político: "não contem com o PS para mais austeridade." Armadilha donde não sairemos sem perceber que o "sistema" não cabe em dicotomias como socialismo-capitalismo e política-economia, que aparecem em recente e cuidado texto de Francisco Assis sobre o livro de Vítor Gaspar.

Mises costumava dizer que é necessário distinguir entre capitalismo puro e capitalismo intervencionado. Em ambos existe propriedade privada, mas enquanto no primeiro há lugar para a concorrência privada entre empresários, no segundo a concorrência concentra-se no âmbito político, ou na ideia de obter uma série de privilégios da parte do Estado para evitar justamente a concorrência económica. No primeiro, reina a soberania do consumidor.

No segundo predomina o clientelismo, as regulações e os subsídios. É este "maldito" capitalismo de Estado de desperdício, conhecido também como "terceira via" ou neomercantilismo, que está em apuros. O que ajuda a perceber por que tantos "instalados" acham a protecção melhor que a concorrência e por que, apesar das boas intenções, os governos acabam quase sempre por atingir resultados opostos aos que se propõem. E dá para entender por que os nossos problemas, mais que de falta de liderança, são de excesso de incentivos para se olear a máquina dos interesses organizados em vez de se servir o bem comum. Interesses que vivem do Estado e dependem dele para o sucesso de "negócios" reveladores de que nem os governos, nem os partidos, são compostos por anjos. Daí o perigo acrescido de se tentar corrigir "falhas do mercado" sem atender às "falhas do Estado". E sem se dar conta de que o "arco dos poderes" é mais largo e perverso do que o da governação. Nele embandeiram todos os que, a coberto do "buraco negro" do Estado social, se louvam nos media e nas redes de dependência do OE e dos fundos europeus.

Um modelo parasita-hospedeiro que, embora continue a minar a vitalidade do hospedeiro e, assim, a enfraquecer o parasita, ainda nos impede de ver a verdadeira razão do nosso purgatório e de acertar nas reformas necessárias para a mudança. Até lá, continuaremos propensos à discussão entre saída limpa e programa cautelar e a ouvir Seguro perguntar: por que precisa o País de mais cortes, como diz a ‘troika', se está melhor, como diz o PSD?

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2 comentários:

Anónimo disse...

"de ver a verdadeira razão do nosso purgatório e de acertar nas reformas necessárias para a mudança" QUE SÃO?...

Unknown disse...

Acrescento uma premissa : separação da gestão profissional e os dirigentes politicos que como os exemplos abundam ter geito para demagogo não se fica habilitado a bom gestor =madeira, gaia, portimao....)